Sharenting é o hábito de postar fotos e vídeos dos filhos nas redes sociais, tem sua origem na junção, em inglês, das palavras sharing (compartilhamento) com parenting (paternidade), e tem sido questionado por grupos de defesa dos direitos das crianças. Nos Estados Unidos surgiram leis que reivindicam compensação financeira aos filhos dos lucros auferidos pelos pais que expuseram suas imagens quando crianças e adolescentes nas redes sociais.
A jornalista Renata Cafardo diz que há um esforço em vários países no sentido desses conteúdos poderem ser apagados pelas plataformas digitais visando protegê-los. Mesmo sendo expostas de um modo social ou familiar ou em show com seguidores, especialistas alertam sobre possibilidade de causar danos para saúde mental, e risco de envolvê-las em violências e pedofilia.
Maria Melo, coordenadora do Instituto Alana, diz: “Pais e mães têm direito de exercer sua parentalidade como quiserem. Podem entender a necessidade de compartilhar as imagens, mas é preciso lembrar que as crianças têm direito à privacidade e à intimidade. Não podem ser afetadas no futuro por escolhas que não foram delas”. Pesquisas, ainda falam do risco da criança sofrer bullying ou cyberbullying na adolescência, transtornos de depressão ou ansiedade, e distúrbio de distorção de imagem. Pode ter dificuldade em discernir o limite da intimidade sem saber o que compartilhar ou não em sua vida, contestando o comportamento dos pais. Há nas redes situações vexatórias para estas crianças quando expostas quando choram, fazem caretas ou falam palavrões – e podem viralizar como memes. Mais graves são os casos em que o rosto da criança é usado para manipulação do corpo pela inteligência artificial e compartilhado em redes de pedofilia.
A Dra. Thais Bozza, pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral, comenta: ”É uma geração de famílias que necessita refletir sobre isso porque, mesmo sem intenção, estão expondo as crianças e podem causar prejuízos ao seu desenvolvimento. Da mesma forma que os genitores protegem as crianças na rua, não as deixam sozinhas no centro de uma capital, não devem deixar, a imagem delas, perambular pelo mundo virtual sem saber a consequência que isso pode causar. Não dá para se arrepender na internet, uma vez postado, não tem controle. Até no grupo da família não dá para garantir que ninguém “printou”, compartilhou.” Se um vídeo tem muitas visualizações, os anunciantes se interessam, e incentivam a criança a ter mais imagens naquela plataforma.
O Pew Research Center, organização americana que estuda mídia e tecnologia, pesquisou e afirmou que vídeos com influenciadores mirins têm três vezes mais visualização do que outros tipos, resultando disso maior número de assinantes. Recomendações naquilo que deve ser feito e no que deve ser evitado: a) Não criar perfis para crianças, mesmo que sejam administrados pelo pai ou pela mãe, é uma dica de quase consenso entre os especialistas.
Menores de 13 anos não podem ter contas em redes sociais, regras estabelecidas pelas próprias plataformas em todo mundo. b) Se postar fotos dos filhos, restringir o acesso ao seu perfil apenas à família e a amigos próximos. Isso não impede que a foto seja compartilhada para fora desse grupo, mas é uma forma de limitar os riscos. c) Uma opção é postar nos stories do Instagram, cujas fotos desaparecem em 24 horas.
Pode mitigar riscos, porém não é garantia de que a imagem não será “printada” e compartilhada. d) Não compartilhar fotos de crianças ou adolescentes em roupas íntimas, roupas de banho ou nus. e) Não é uma opção perguntar para a criança se pode ou não postar a imagem dela. São os pais que devem fazer escolhas conscientes e seguras para os filhos. *Caso haja necessidade de alguma orientação a SaferNet ensina como denunciar em diferentes redes sociais caso alguma imagem de seus filhos seja publicada sem autorização. A privacidade da família não deixa despertar os maus olhos do mundo.