O mundo em fuga está querendo deixar para traz a realidade que nos assusta. Há uma ansiedade no ar, que está contaminando crianças, jovens e adultos, gerada pelas más notícias da mídia falada e escrita. Todos têm pressa de cumprir metas que prometem bem-estar e segurança. Em vez de nos abraçarmos com afeição estamos nos acotovelando na busca da sonhada realização profissional ou mesmo no modo ansioso de granjear o pão nosso de cada dia.
No Brasil 72% das pessoas sofrem com estresse no trabalho e 32% têm “burnout”, síndrome caracterizada por sensação de não dar conta das tarefas, indiferença ao trabalho e baixa satisfação profissional. Em nosso país, jovens que desejam frequentar universidades particulares ficam frustrados ante as mensalidades elevadas que não condizem com sua condição financeira, mantendo mais as portas abertas para os filhos de famílias abastadas. As universidades do governo têm seus vestibulares muito concorridos, e boa parte da lista dos aprovados não podem se matricular, limitados pelas vagas existentes.
Decepcionados, tendo o futuro perdido na enorme desigualdade sociocultural, deixam o mundo real para se esconder no mundo virtual da internet, e 1 em cada 4 usuários adquire a dependência tecnológica. O viciado digital tem necessidade de aumentar o tempo conectado para manter a satisfação, ignorando o relacionamento familiar e social, postergando suas obrigações.
Astrônomos ligados com a Ciência e a Tecnologia prometem lançar até 2026 o satélite Plato, para rastrear o Universo em busca de outro sistema solar igual ao nosso onde haja seres vivos semelhantes a nós, o que não acredito. Mesmo se houvesse, jamais conseguiríamos sair do nosso sistema solar para tocá-los. Mais fácil é arregaçarmos as mangas e salvar nosso planeta feito por Deus, na medida das nossas necessidades, e praticar o que Jesus ordenou: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
De início esse é o ideal suficiente na busca de recuperar nosso paraíso perdido. No antigo Egito os faraós se sucediam no poder apagando, nos escritos, as glórias do seu antecessor. As grandes estátuas que cultuavam a memória dos grandes conquistadores, seus nomes esculpidos eram trocados pelo nome do faraó que os sucedia. Os escribas do reino não registravam as derrotas sofridas nos campos de batalha. Grandes trechos da História foram escritos para exaltação, escondendo os fracassos que sempre serviram de humilhação.
O mundo em frustração foge do controle de censuráveis políticos e cientistas que com suas descobertas costumam deixar um rastro de ódio, tirania e destruição. Como chamar isto? Escapismo ou tentativa de sobrevivência? Michael Green, físico britânico, atrai nossa atenção ao afirmar: “A crescente agitação do mundo moderno, a política de ter duas faces, o quase compulsivo condicionamento e viciação à televisão ou à internet, a contínua preocupação com o sexo, a maneira de abafar o triste dilema da morte, são algumas das maneiras pelas quais nossa geração procura fugir dos problemas”.
O ateísmo crescente diz que a maior ilusão dos nossos dias, como foi do passado, é a religião. O cristianismo é rotulado por eles de “escapismo” da realidade, por oferecer um Éden celestial após a morte. Esta acusação é inteiramente falsa. A fé cristã, intrìnsecamente, é a antítese do escapismo. O próprio Jesus, em sua oração sacerdotal, pediu ao Pai que os seus filhos na fé não fossem retirados do mundo, para servirem de testemunhas, mas que os livrasse do mal.
Há mais de dois séculos temos cultivado o joio do pensamento filosófico de J. J. Rousseau que o homem nasce bom por natureza, quem o corrompe é o meio social em que vive. Falsa verdade que faz crer que é a sociedade que molda o caráter do homem. O caráter responsável do homem é esculpido dentro dele mesmo; se errar, não deve haver a rota de escape da transferência de culpa, deve ser julgado como réu e não como vítima irresponsável dos seus atos. De tudo, o mais grave é a nossa fuga de Deus.