Todo domingo, pela manhã, vou até a banca da praça comprar o jornal. Neste domingo, fui primeiro à casa de carnes, em frente, quando voltei abri a porta do carro para guardar o pacote, o guarda de carros, que já conhece de modo costumeiro o meu trajeto, me alertou: “E o jornal?” Respondi: “Primeiro a comida, depois a notÍcia!”
De fato, a sabedoria dos nossos avós diz que saco vazio não para em pé. Depois da refeição o difícil é digerir as notícias, são realmente indigestas, principalmente, as de tempo de pandemia. Pondo os olhos em determinada coluna havia crítica ao comentário da participante do Big Brother Brasil, Sarah Andrade, sobre o nosso comportamento em sociedade, expos seu modo de pensar, uma faceta do egoísmo praticado por parte da população. Continuou contando: “Ainda estava na festa quando recebi uma ligação de censura da produção: Pandemia não existe para você? Ninguém está morrendo pra você? Respondi: Oxi… e eu não tô sentindo nada!” Assim ela finalizou em forma de pilhéria.
O articulista escreve que ela foi criticada nas redes sociais, porém, o seu comportamento está longe de ser estranho. As festas clandestinas pelo país mostram esse negacionismo prevalente, mesmo quando a pandemia está atingindo seu pior momento, mais de duas mil pessoas morrendo por dia. Ser um negacionista é não aderir ao consenso de uniformidade de opinião, pensamento, sentimento, crenças da maioria de uma coletividade. Tempos atrás, na mídia, surgiu um personagem sempre portando um guarda-chuva a fim de ser comparado a uma pessoa do contra, deram-lhe o nome de o “homem do guarda-chuva” – quando todos festejam o sol, ele só espera a chuva. Sua conduta, desafiando a todos, é de frequentar baladas proibidas, quando se prega o isolamento social, de não aprovar o uso de máscara, de rejeitar a vacina, de menosprezar a gravidade da doença em jovens, de proclamar um tratamento precoce contra a covid 19, usando produtos sem comprovação científica. Até quando? Ó Pátria amada!
Nem sempre o comportamento reflete o sentimento. O modo de atuar no palco da vida é bem mais diferente daquele que se atua nos bastidores da realidade. O caráter é o que somos, enquanto que a reputação é o conceito que gozamos dentro de um grupo humano, dependendo do nosso comportamento. Carl Rogers, psicólogo americano, salientou a primazia do sentimento como condição da mudança do comportamento; no entanto, todo ser humano tem em si o intelecto para discernir o certo do errado, e a vontade para escolher qual deles praticar, conforme a atitude ele irá aguçar ou domar o decaído instinto na diretriz da boa ou da má conduta. Conclusão: Na verdade, exercer o comportamento do bem é prioridade para mais aperfeiçoar o sentimento, ou aquele do mal para deformar ainda mais. Agir bem, em sociedade, é promover o bem estar de todos, agir mal é negar as evidências que são os recursos culturais, religiosos, tecnológicos e científicos, alicerçados na fé e na razão, que mantém o equilíbrio social, isso ele faz com tanta frequência que se torna um negacionista possuído por um delírio de se achar especial, aderindo a outros “especiais” do seu grupo.
Conforme diz o sociólogo Renan Leonel, da Suiça, o bolsonarismo instrumentaliza isso o tempo todo. É um fenômeno de confrontação da morte, o conflito de encarar a finitude. Acham ter o corpo invulnerável à peste e não obedecem as restrições impostas, sendo irresponsáveis no risco assumido sem pensar no risco do outro. Na sequência da peste tivemos o surto, a epidemia, a pandemia e por fim a calamidade, não foi um impacto de uma só vez, por isso cresceu a insensibilidade desse grupo diante das trezentas mil mortes numa acomodação cognitiva. Na prática, as pessoas focadas no pragmatismo cotidiano, de precisar trabalhar para comer, a escolha fica difícil: sair para o trabalho e se contaminar, ou ficar em casa e ter a geladeira vazia. Se eu correr o bicho pega, se eu parar o bicho come. Eis a questão: Morrer pelo vírus ou de fome?