O uso de tecnologia nas escolas é um dilema vivido por pais, professores, alunos e coordenadores em diversas escolas do Brasil e do mundo. O limite entre o uso adequado do celular, tempo de tela, registro nos cadernos é sempre motivo de discussões e artigos sobre o assunto. Pensando nisso, e em inovar de forma adequada, a Maple Bear Mogi das Cruzes iniciou em 2019 um projeto para transformar a educação e garantir que os recursos e os equipamentos fossem utilizados com o objetivo não só de otimizar o tempo, mas, principalmente, de promover o aprendizado.
A escola acredita que não deve, de forma alguma, afastar equipamentos eletrônicos do ambiente escolar, mas que, por outro lado, é preciso ensinar professores e alunos a utilizá-los adequadamente, cumprindo uma função significativa na experiência do aluno. Em parceria com a Inicie Educação, a Escola Internacional Canadense de Mogi das Cruzes iniciou um projeto de implantação de tecnologia que previa desde a orientação técnica até a criação de contas institucionais para todos os alunos e funcionários, mas principalmente uma série de oficinas mensais que promoviam a reflexão e a aprendizagem do uso desses recursos. “Os professores tiveram a oportunidade de experimentar as ferramentas, de entender como elas funcionam, para então prever o uso delas em sala de aula”, conta o diretor da escola, Richard Debre.
Associada à implantação das contas e recursos da Google, a escola iniciou também um projeto de tutoria, realizado pelos alunos, para que eles fossem protagonistas não só do aprendizado, mas das mudanças, na prática, na escola. O objetivo do projeto “Aluno Tutor” é também garantir que os professores tenham suporte em sala de aula e incentivar o diálogo entre eles. “É mais fácil quando um aluno está envolvido, quando ele pode ajudar o professor e os outros, ali, na hora, em sala de aula”, diz Richard, também coordenador do projeto. Foram diversos os benefícios pedagógicos observados: engajamento dos alunos nas propostas pedagógicas, promoção das “aulas invertidas”, proximidade na relação aluno-professor e a construção de senso de pertencimento.
A partir dos desafios identificados, os coordenadores do projeto reuniam-se com os alunos semanalmente, em encontros de planejamento, orientação e avaliação. Nessas reuniões, além de verificar as tarefas e os desafios da escola, eles participam de oficinas sobre alguns recursos. O objetivo desses encontros é promover o diálogo com os alunos das possibilidades de uso na escola, estimulando a criatividade e também formando-os sobre possibilidades ainda desconhecidas. Os estudantes criaram “um aluno e uma sala de aula teste” para que pudessem fazer simulações no Google Sala de Aula, vivenciando o papel do professor no dia a dia, explica Richard. Essas vivências semanais contribuíram com a formação dos alunos, que a partir daí sentiam-se mais preparados para apoiar outros alunos e professores.
Para os demais estudantes, os tutores ofereciam apoio em suas próprias salas de aula à medida que os professores propunham alguma atividade que dependesse do uso da tecnologia. Para os professores, além dos encontros frequentes, presenciais e online, os alunos verificavam o planejamento das atividades deles para propor formas de uso da tecnologia. Além disso, os alunos tutores seguem uma agenda básica, desenvolvida na reunião com a coordenação, para orientar e divulgar outros recursos e possibilidades, também estimulando um diálogo com os professores sobre as diferentes “formas de aprendizado”. Assim, é possível garantir que diversos recursos sejam apresentados aos professores e que todos estejam alinhados à proposta.
O sucesso do programa foi enorme, visto que a escola viu a transformação acontecer em todos os ambientes. “Não se trata do aluno jogar menos ou usar menos o celular, mas sim de vermos que ele também começa a usá-lo de forma mais adequada, promovendo seu próprio aprendizado. Essa geração tem o mundo na palma das mãos, e com tanta informação e recursos se perdem facilmente, pois não sabem como usá-los. Precisamos ensiná-los – pais, professores e alunos”, afirma Debre.
O resultado foi muito significativo. Além de professores e alunos mais engajados, a tecnologia passou a ser utilizada de forma colaborativa, facilitando os processos e a dinâmica escolar. Os alunos criaram ainda um canal de YouTube, no qual compartilham vídeos e trocam ideias com outros professores, alunos e instituições. Além disso, em 2020, com a pandemia, a escola migrou facilmente para o ensino online, uma vez que os professores e alunos estavam preparados, não só com suas contas, mas acostumados a fazer atividades em ambiente digital. “A pandemia trouxe desafios enormes, mas enxergamos como oportunidades. Era uma incerteza constante quantos dias ficaríamos ali, e precisávamos fazer a escola acontecer de verdade. A tecnologia bem implantada ajudou muito”, conta orgulhoso o diretor.
O sucesso do projeto foi tanto que a escola foi reconhecida em outubro deste ano pela própria Google como “Escola Referência” e passa a fazer parte de um grupo seleto de escolas no mundo, a primeira de Mogi das Cruzes, que reconhece a importância da tecnologia para a aprendizagem, mas que também aposta nas relações humanas e no uso adequado de todos esses recursos, promovendo a colaboração e a transformação dia a dia.