quinta-feira, 21 novembro, 2024
Mães: as super-heroínas sem capa (e sem folga!)”

O Dia das Mães, essa festividade cor-de-rosa repleta de flores e cartões que inundam as lojas como um sinal incontestável de amor e apreço. Certamente, um único dia no calendário para lembrar a todos que, apesar das mães frequentemente executarem o trabalho de uma equipe inteira de logística e gerenciamento de crises, ainda lhes devemos um brunch caprichado uma vez ao ano. Ironias à parte, essa celebração pode revelar muito sobre o dualismo implacável da maternidade na sociedade moderna.
Por um lado, temos a supermãe, aquela figura quase mítica que, além de sustentar uma carreira, ainda encontra tempo para comparecer a todas as reuniões escolares, organizar festas de aniversário e preparar jantares que não consistem apenas em esquentar algo congelado. Esta é a mãe que domina a arte de multiplicar as 24 horas do dia, e ainda assim, parece nunca receber o crédito total por seus esforços hercúleos. “Ótimo trabalho”, dizem todos, mas o tom subentendido é de que, afinal, isso é o que se espera dela.
No entanto, em meio a essa celebração de superpoderes quase fictícios, esquecemos de algo crucial: essas mães também são mulheres individuais, com necessidades, desejos e aspirações que transcendem a maternidade. Há um certo sarcasmo social em como rapidamente rotulamos alguém como “mãe”, engolindo qualquer outro aspecto de sua identidade. E, embora a maternidade seja certamente uma parte integral de suas vidas, não é a totalidade dela.
Essa glorificação da mãe como uma gestora doméstica onipresente e onisciente muitas vezes omite a realidade de que, mesmo super-heroínas precisam tirar a capa às vezes. Elas precisam de momentos para si, para rejuvenescer e cuidar do próprio bem-estar mental e físico. Mas quando mencionamos isso, não é raro ouvir um murmúrio de desaprovação, como se pedir um tempo para si mesma fosse um ato revolucionário ou um sinal de fraqueza.
O verdadeiro sarcasmo do Dia das Mães, então, não está na falta de reconhecimento pelo trabalho duro dessas mulheres — isso, ao menos, tentamos compensar com um dia festivo. Está na nossa falha coletiva em reconhecer que, por trás da máscara da “mãe”, existe uma mulher que não deveria precisar de uma ocasião especial para ser vista e ouvida. A maternidade não deveria ser uma ilha isolada na identidade de uma mulher, mas sim uma das muitas facetas de uma vida rica e multifacetada.
Portanto, enquanto enviamos flores e escrevemos cartões tocantes, talvez devêssemos também refletir sobre como podemos apoiar não apenas a mãe, mas a mulher por trás daquela alcunha. Isso envolveria, talvez, oferecer mais do que um café da manhã na cama uma vez ao ano, mas um reconhecimento diário de que ela, assim como todos nós, tem múltiplos papéis e todos eles merecem respeito e cuidado. Que ironia seria, depois de tantos anos celebrando o Dia das Mães, começarmos a valorizar a mulher tanto quanto a mãe. Não seria hilário se, ao invés de flores, começássemos a oferecer um pouco mais de igualdade e reconhecimento? Ah, as mães agradeceriam.

Richard Debre, professor, educador, empresário, consultor, sonhador.

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