As férias escolares são um período aguardado com ansiedade por crianças e adolescentes, oferecendo uma pausa necessária na rotina educacional. Contudo, essa interrupção anual possui uma profundidade filosófica que muitas vezes não percebemos. Poetas como Mário Quintana captam a efemeridade do tempo em versos como “O segredo é não correr atrás das borboletas… É cuidar do jardim para que elas venham até você.” Nesse sentido, as férias são uma oportunidade de cuidar do nosso “jardim interior”, de cultivar momentos de reflexão e crescimento pessoal que a correria diária não permite.
No mundo contemporâneo, a valorização da produtividade incessante frequentemente nos impede de apreciar o valor do ócio. Filósofos como Bertrand Russell e Josef Pieper argumentam que o ócio é essencial para a realização humana. Em “O Ócio e a Vida Intelectual”, Pieper defende que as pausas são fundamentais para a contemplação e a compreensão do mundo ao nosso redor. As férias escolares não são apenas uma suspensão das atividades, mas uma chance de renovação e introspecção.
Durante as férias, a passagem do tempo pode se tornar um convite a uma reflexão interior. Poemas como “Relógio” de Mario Quintana nos lembram que o tempo é um recurso precioso e fugaz. “A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa”, ele nos alerta, instigando-nos a refletir sobre como utilizamos nossos momentos. Durante as férias, temos a rara oportunidade de desacelerar e considerar o que realmente importa: as conexões humanas, o aprendizado fora da sala de aula e a redescoberta de interesses pessoais.
Já é sabido, contudo, como a tecnologia moderna tem sequestrado nosso tempo e atenção. As horas que passamos em frente a telas – seja em redes sociais, jogos ou outras formas de entretenimento digital – frequentemente substituem interações pessoais e experiências enriquecedoras. Por exemplo, um estudo recente mostrou que adolescentes passam em média sete horas diárias em frente a telas, muitas vezes em atividades de baixo estímulo intelectual ou emocional. Esse fenômeno afeta não só os adultos, mas também nossos filhos e alunos. As férias, por sua vez, oferecem uma oportunidade crucial para restabelecer essas conexões, tanto familiares quanto comunitárias.
A importância de aproveitar o tempo das férias vai além do descanso físico; trata-se de uma renovação espiritual e emocional. É o momento de se desconectar das distrações digitais e reconectar-se com a natureza, com os entes queridos e, mais importante, consigo mesmo. É um período para fortalecer laços familiares, explorar novos interesses e redescobrir o prazer do aprendizado por prazer, sem a pressão das notas e dos prazos.
Assim, ao entrar no período de férias escolares, somos convidados a refletir sobre o uso do nosso tempo e a importância das pausas na nossa vida. Que possamos, inspirados por Quintana, cuidar melhor do nosso jardim interior, permitindo que as borboletas – as alegrias e realizações da vida – venham até nós naturalmente. Afinal, como dizia o poeta, “o segredo é viver cada momento como se fosse o último, mas planejar como se fôssemos viver para sempre”. As férias podem ser um verdadeiro alimento para a criatividade, uma chance de redescobrir a si mesmo e ao mundo ao nosso redor.