Como ser humano me dou o direito de errar, mas principalmente de refletir sobre os meus erros, e quiçá aprender alguma coisa com eles. Pois justamente no mês passado, em que em 7 de abril comemora-se o Dia Nacional de Combate ao Bullying, encontrei-me em um profundo dilema das relações sociais.
Durante um almoço, uma colega de trabalho, que se tornará também uma amiga, usava um colar, muito bonito, de bolinhas verdes. Aconteceu que, nossas entradas no almoço incluíam azeitonas verdes, que de certa forma lembravam o colar que ela usava. Tomado por um sentimento de farra (que assim consegui denominar), durante o almoço brinquei que o colar dela havia estourado e que havíamos, portanto, encontrado ali algumas de suas partes. Todos riram! E alguém disse de longe, também em “tom de brincadeira”: – Isso é bullying, hein! Passei o restante do almoço conversando sobre outros assuntos, mas refletindo profundamente sobre a minha brincadeira e sobre o comentário do outro colega.
Chegando em casa, depois de enviar um pedido de desculpas pela minha, de novo, “brincadeira”, ainda lembrei-me como semanas antes a internet estava tomada por comentários sobre a atitude de Will Smith na cerimônia do Oscar. Lia como ele havia sido banido, por 10 anos, de qualquer cerimônia da academia como consequência de sua atitude em resposta a, mais uma vez, “brincadeira” do apresentador. Cabe aqui afirmar que devemos partir do pressuposto de que a violência nunca é a atitude para resolver nenhuma situação, visto que o consagrado ator já havia, inclusive, não só pedido desculpas para Chris Rock, reconhecendo sua falha, mas também abdicado de sua cadeira na academia.
Todas essas situações reviraram minha cabeça, afinal, meu questionamento, interno e profundo, era, ou ainda é, qual o limite entre uma brincadeira, preconceito ou ainda bullying? Poderia eu então ter debochado de alguém, mesmo sem ter a intenção? Termo que surgiu em 1970, pelo professor norueguês Dan Olweus, o bullying trata de um fenômeno que sempre existiu e dá nome ao ato de agredir alguém, física, verbal ou psicologicamente, intencionalmente, repetidamente, e com a intenção de humilhar. Confesso que a definição tranquilizou-me quando retomei a situação vivida no início do mês com minha amiga, mas a sensação de ter provocado um desconforto em alguém pertencente ao meu ciclo de amigos, ainda persistia em minha cabeça.
Dessa forma, fui retomar o significado de brincadeira. Como educador, nas escolas que acompanho, é comum ouvir “mas, professor, foi brincadeira”. Pois aqui, antes do fenômeno bullying, precisamos entender que para ser brincadeira, os dois, ou mais, envolvidos diretamente na situação precisam estar se divertindo. É justamente a relação de poder que se estabelece nessas situações que podem transformar uma “simples brincadeira” em preconceito, humilhação ou deboche. Will Smith reagiu de forma inadequada, mas Chris Rock, ao comentar sobre e brincar com a alopécia da esposa do ator ganhador do Oscar, estabeleceu uma relação de poder em que a diversão aconteceu para ele e, provavelmente, para uma plateia que mal teve tempo de pensar sobre o que estava acontecendo, mas que desempenha um papel fundamental nas relações, pois ao mesmo tempo que pode reforçar é capaz de cessar.
Depois de tanto refletir e analisar, acredito que minha brincadeira tenha sido sim inadequada, pois apesar de perdoado e mesmo com a consciência de que não tive qualquer intenção de humilhar, magoar, nem debochar, o limite entre uma coisa e outra é tênue e, ao contrário do que Newton diz: toda ação, não tem uma reação. Toda ação provoca uma emoção, e é essa emoção que define a nossa ou a de qualquer outro, famosa reação.