A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível por ter descredibilizado o processo eleitoral não torna menos provável uma vitória da direita nas urnas na próxima eleição. Pelo contrário, ela aumenta significativamente as chances de que Luiz Inácio Lula da Silva não seja reeleito ou eleja seu sucessor.
A exclusão de Bolsonaro da corrida eleitoral tira de Lula seu principal cabo eleitoral e abre espaço para candidatos com maior viabilidade em um eventual segundo turno contra Lula ou um candidato indicado por ele.
Tomemos como exemplo a possível candidatura de Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo. Todos os eleitores de Bolsonaro votarão em Tarcísio. Além deles, Tarcísio atrai eleitores que rejeitam Bolsonaro, o que torna sua chance de vitória nas eleições bem maiores do que as do próprio Bolsonaro, mesmo sem ter tanto carisma quanto ele.
Isso só não seria verdade se o espaço de Bolsonaro for ocupado por um dos seus filhos ou sua esposa. Neste caso, provavelmente os eleitores serão, no máximo, os mesmos, já que a rejeição é, ao menos que não foram suficientes para que Bolsonaro ganhasse de Lula nas últimas eleições, já que a rejeição de cada um deles deve ser parecida com a de Bolsonaro.
A realidade é que Tarcísio se tornaria um candidato muito mais forte do que Bolsonaro em um possível segundo turno. Além disso, olhando adiante, podemos observar um segundo efeito dessa situação.
No Brasil, existe uma tendência curiosa entre muitos eleitores: eles tendem a ver políticos condenados pela Justiça como tendo sido injustiçados, o que, consequentemente, os transforma em mártires e fortalece suas candidaturas no futuro. Isso ocorreu recentemente com Lula e pode muito bem acontecer com Bolsonaro no futuro.
Portanto, o resultado prático da inelegibilidade de Bolsonaro é que a direita e a centro-direita saem fortalecidas para o futuro. Bolsonaro, obviamente, saiu prejudicado, mas Lula perdeu pelo menos tanto quanto ele.