quinta-feira, 21 novembro, 2024
Transtornos alimentares e o padrão de beleza inalcançável
Dra. Vanessa Ramagem é médica, com pós-graduações em Endocrinologia e Nutrologia,
e diretora do Instituto Vanessa Ramagem.


Pacientes com transtornos alimentares e transtornos de imagem são muito frequentes em meu consultório. A mídia e a própria sociedade ditam padrões de beleza bem diferentes dos naturais. Eles priorizam a estética e deixam de lado a saúde física e mental das pessoas. Diante disso, o uso de remédios para emagrecer sem acompanhamento médico aumentaram de maneira indiscriminada, soma-se a isso a facilidade em adquirir medicamentos sem receitas nas farmácias. Além disso, o problema não é utilizar esses medicamentos, o agravante é fazer isso sem indicação, sem ter de fato obesidade ou sobrepeso.
A partir do uso indiscriminado começam novos problemas de saúde, como sarcopenia (perda de peso incluindo perda considerável de massa muscular), dependências de medicação, transtornos alimentares (como anorexia e bulimia) e transtorno de imagem.
É sobre eles, que falaremos a seguir:
A anorexia nervosa e a bulimia apresentam grande incidência entre os jovens. As mulheres são as mais acometidas por esses distúrbios, sendo a anorexia a de maior incidência no público de 12 a 17 anos e a bulimia se mostra mais presente no início da vida adulta. Na anorexia, a pessoa restringe a alimentação. Ela inicia com uma dieta comum e, com o passar do tempo, essa limitação se intensifica, levando a grande perda de peso. O jejum recorrente também faz parte das características apresentadas pelo transtorno. Muitos quadros de anorexia acabam levando à desnutrição.
Na bulimia, em situações recorrentes, o indivíduo ingere uma grande quantidade de alimentos num espaço curto de tempo e, em seguida, passa a utilizar “métodos compensatórios” para evitar o ganho de peso, o que inclui a indução de vômito e o uso de laxantes e diuréticos.
Os transtornos alimentares estão diretamente relacionados à distorção de imagem. O medo excessivo de ganhar peso e o valor próprio muito centrado na imagem são fatores fundamentais para o diagnóstico.

Sinais e sintomas
Em geral, as pessoas mais próximas são as que detectam os primeiros sinais. Aquele que sofre com o transtorno, dificilmente, será capaz de identificar alterações. Alguns sintomas merecem atenção.
• Nos casos de anorexia: É comum que as pessoas nessas condições realizem dietas que se tornam cada vez mais restritivas. Além disso, mantêm uma observação constante das embalagens de produtos, fazem contagem de valor calórico, isolam-se para não se alimentar junto da família, desenvolvem o comportamento de se pesar e medir o corpo com frequência.
• Nos casos de bulimia: Pessoas que enfrentam esse quadro desenvolvem episódios de compulsão alimentar, em que a pessoa passa a comer muito rápido e em grande quantidade. Em geral, elas vão para o banheiro logo após a ingestão desses alimentos para provocar vômito. Ou ainda, após grande ingestão de comida, o indivíduo decide fazer um longo período de jejum. Também compram grandes quantidades de laxantes e diuréticos sem prescrição médica. Além disso, a atividade física excessiva é uma característica comum nestes casos.

Consequências
Os transtornos alimentares precisam ser identificados, diagnosticados e tratados o mais rápido possível. Eles podem acarretar outros problemas de saúde, que podem levar até à morte. A anorexia nervosa é o transtorno mental com maior taxa de mortalidade, tanto pelas complicações físicas, como pelas alterações cardiovasculares, psiquiátricas e por suicídio.
Uma revisão sistemática publicada no International Journal of Eating Disorders sugere um aumento de 48% nas admissões hospitalares relacionadas a transtornos alimentares (TA) durante a pandemia da Covid-19.
Como existe uma dificuldade de o paciente doente avaliar sua própria situação, é de extrema importância que os familiares e as pessoas mais próximas estejam atentos a esses sinais. É fundamental conversar, alertar, dar assistência e procurar ajuda. Uma das formas de ajudar é escolher uma equipe multidisciplinar para acompanhamento, que veja o paciente integralmente, como endocrinologista, nutrologista, psiquiatra, nutricionista e psicólogo.

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