quinta-feira, 21 novembro, 2024
Maré Rosa

No Dia da Pátria, se houvesse uma pesquisa, pouca gente diria que sabe existir “letra” na introdução da pauta musical do Hino Nacional: “Espera o Brasil que todos cumprais com o vosso dever./Eia! Avante, brasileiros! Sempre avante./gravai com buril nos pátrios anais o vosso poder./Eia! Avante, brasileiros! Sempre avante./Servi o Brasil sem esmorecer, com ânimo audaz./Cumprí o dever na guerra e na paz./ À sombra da lei, à brisa gentil./O lábaro erguei do belo Brasil./ Eia! Sus, oh, sus!”. A seguir a parte cantada: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas…”.
Em meio ao patriotismo exaltado em que vivemos, em época de eleição, se proclama os benefícios da direita e da esquerda, apontando de cada lado, o que não poderia deixar de acontecer, os malefícios que o adversário político pode trazer para o país, se eleito. Nesse tempo dedicado à campanha eleitoral há uma busca sórdida de qualquer corrupção escondida se tornar pública a fim de enlamear a honra do concorrente, deixando de apresentar um projeto futuro de governo que traga reais soluções econômicas para a nação.
Do “Estadão” temos esses dados: de cada R$100 que a União gasta, mais de R$90 estão empenhados em despesas obrigatórias, como aposentadorias e salários de funcionários públicos, sobre as quais o presidente eleito não terá nenhum controle. Esse engessamento orçamentário irá impedir investimentos prometidos durante a campanha eleitoral. A gangorra política oscila, pela tomada do poder, entre a direita e a esquerda. Atualmente, assistimos o avanço da esquerda pela eleição de Gustavo Petro, na Colômbia, ex-guerrilheiro do M-19, engrossando a chamada “maré rosa” – uma expressão criada pela própria esquerda para “romantizar” a ascensão em série de seus líderes na América Latina nos últimos anos. No entanto, como resumo da ópera, pode-se dizer que os governos da esquerda fizeram da Venezuela um Haiti, da Argentina uma Venezuela e, se bobear, farão do Chile, uma Argentina. E no Brasil se a esquerda vencer, como será?
A América Latina é marcada pelo intervencionismo estatal na economia, pelo baixo nível de renda da população e pelo alto grau de corrupção no setor público. Nicolás Saldias, analista para a América Latina, afirma: “As pessoas falam de uma ‘maré rosa’, mas o que está acontecendo é uma maré contra os candidatos que buscam a reeleição, sejam de direita ou de esquerda”.
Christopher Garman, cientista político, diz que a esquerda está ganhando as eleições nos países sul-americanos porque estão dominados por um profundo sentimento de desencanto com o sistema – aí incluídos os partidos, as lideranças políticas e o Judiciário. José Fucs, jornalista, diz que a economia comandada pela exportação de commodities, perdeu força. A classe média emergente deu marcha à ré na escala social. Milhões de pessoas voltaram para a pobreza e a insatisfação cresceu de forma considerável. Em ritmo de eleição a esquerda promete a volta dos “anos dourados” de 2003 a 2016, época em que o PT esteve no poder. Sobrava dinheiro no mundo. A China crescia na faixa de 10% ao ano, alavancando a economia mundial. A demanda por commodities como petróleo, minérios, soja e carnes explodiu inundando os países latino-americanos de uma enxurrada de dólares, por serem os maiores exportadores de commodities do planeta. Foi isso e não a ideologia que viabilizou o aumento da classe média e a redução do desemprego.
O governo atual da direita foi prejudicado por ser atingido pela pandemia – confinamento e despesa financeira elevada com a doença. Além disso, juros em alta, a economia global desacelerou, Europa e Estados Unidos no limiar de uma recessão. Os economistas chamam de “estagflação” a combinação perversa de inflação alta com estagnação econômica que vem contagiando a maioria dos países do mundo, pode fazer durar pouco o sentimento de euforia pela ascensão em série de líderes de esquerda na América Latina e desfazer a miragem de “lua de mel” de governo por parte de políticos, intelectuais e militantes do PT.

Dr. Mauro Jordão é médico ginecologista.

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