Olhei para o alto e vi o pico do Marumbi, 1500 m de altitude, após descer do trem na estação local para realizarmos um festivo pic-nic. A descida da Serra do Mar sobre trilhos em direção a cidade de Morretes é um desafio da engenharia sobre o abismo.
O entusiasmo jovem, quando ainda acadêmico de Medicina, me levou a convidar o colega Paulinho para escalarmos juntos esta montanha desafiadora até o cume. Sem apetrechos de alpinista fomos à luta abrindo caminho, com dificuldade, por entre árvores e vegetação rasteira e seguindo em parte o curso de um riacho, até chegarmos a base da montanha.
A subida era exaustiva, mas a paisagem deslumbrante que se abria diante dos nossos olhos nos dava a energia de subir mais para ver mais. Depois de ingerir o caldo de algumas laranjas que havíamos levado saciou a nossa sede. Mais à frente deparamos com um paredão, e subindo perigosamente, firmado no ombro do parceiro, venci o obstáculo. Já estava no cume, mas o colega ficou para trás e não poderia me acompanhar, senti medo e resolvi descer até onde ele estava. Deus nos amparou no pior.
A descida foi mais fácil. Preocupados com o horário de retorno no caminhar da tarde, apressamos o passo, sedentos e perdidos na mata em desespero para encontrar o riacho que além de saciar a nossa sede nos levaria até a estação do trem. Enfim aconteceu. A nossa epopeia terminou tendo em nós um hino vibrante de vitória.
Em recordação, essa visão horizontal do passado inspirou-me a escrever sobre a visão espiritual do alto, com a qual poucos se preocupam, porém, sendo a mais importante. Qual tem sido a tua visão diária? A rotina cansativa de todos os dias de poucas celebrações? Ou a inigualável visão da montanha da fé que nos faz descortinar todo o vale de bênçãos, semeado e regado por Deus com as sementes do amor, da paz e da alegria, do qual se colhe cada dia esse alimento espiritual necessário para um viver feliz. Jesus diz a seus seguidores: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.
Do alto da montanha da fé, onde se processa a santificação, a visão espiritual do mundo se estende diante dos nossos olhos como o grande vale de sofrimentos do homem decaído. Nele vivemos, assistimos, participamos e sofremos os horrores da guerra, do luto da morte, do medo da peste e da calamidade da fome. É um mundo em constante construção e destruição onde se tem de tudo; momentos breves de alegria e longos dias de tristeza, muitos sorrisos, depois, banhados de lágrimas.
O homem natural tem a visão horizontal do vale, ele não deseja subir a montanha da fé, pela razão ele pensa ter sua segurança nos bens materiais, tesouros da terra onde a traça e a ferrugem tudo consomem e ladrões escavam e roubam.
O homem espiritual, além da visão horizontal, ele possui a visão vertical do alto e prefere ajuntar tesouros eternos no céu onde não existe a insegurança do vale. Infelizmente, a Igreja tem perdido muito do discernimento entre a verdade e a mentira, e no vale tem buscado se identificar com o mundo.
Não temos poder para mudar o mundo em que vivemos, porém, o nosso mundo interior pode ser mantido ou melhorado com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós, fazendo uma faxina espiritual de purificação dos nossos lábios, dos nossos olhos e das nossas mãos no falar, no ver e no servir. Para palmilhar o caminho da fé: primeiro, temos de nos aproximar de Jesus para ouvir o “vinde” do seu chamado “segue-me” e obedientes segui-Lo; segundo, ser discípulos para aprender a seus pés a verdade do Evangelho; terceiro, tendo da visão do alto, devemos descer a montanha da fé em direção ao vale, ordenados pelo “ide”, e cheios do poder do Espírito Santo, testemunhar aos homens o Evangelho da Salvação.
A vida de muita gente se assemelha a “Síndrome da Igreja de Laodicéia”, em Apocalipse: “Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma”. E Deus contradiz esse soberbo: “Nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.” Está faltando nele a visão do alto.