O Brasil passa por uma situação muito particular e quase que, inimaginável, no que refere à política. Inimaginável, não porque não devesse ocorrer, mas porque o histórico no trato com os desvios de conduta dos políticos, de qualquer ordem, nunca sinalizou para o relativo rigor agora manifesto. É claro que ainda não temos a situação tão inclusiva como deveria, mas mesmo com o atingimento parcial de destinatários certos de processos, prisões e afins, é indubitável o avanço nesse sentido.
A situação é complexa à medida que temos faltas administrativas, falta de decoro parlamentar, contravenções e crimes de diversas ordens e gravidade e, por isso, é necessário tratar cada caso, individualmente. Some-se a isso o oportunismo de alguns que lançam mão de falsas denúncias, o abuso de autoridades – por mais que tenhamos policiais, promotores e juízes dignos, sérios e que prestam um bom serviço à nação, sempre há alguns que passam do ponto por este ou aquele motivo – a mídia, suas parcelas de distorções e interesses, o emaranhado de distinções ideológicas, filosóficas e religiosas que influenciam nas percepções, ainda, a contundente opinião pública e aí está uma mistura dificílima de interpretar com rigor e bom grau de acerto.
O que vemos é que diante desse quadro sociopolítico, estão cada vez mais escassos os homens de bem, que têm sinceridade de propósito, organização, disciplina, capacidade técnica e controle emocional, dispostos a assumir cargos no executivo. Nos períodos em que se definem os primeiros escalões dos governos, tenho conversado com alguns amigos que foram convidados para assumir secretarias ou diretorias, nomes que não têm grande envolvimento com a política partidária, e é quase que unânime a recusa, decorrente do medo da exposição e de que esse citado imbróglio possa contaminar, não só sua imagem, mas talvez a vida como um tudo, considerada digna e honrada até aquele momento. Afinal, quem exercendo o poder estará livre de processos, acusações e afins, ainda que infundadas? Mesmo que se prove a improcedência, o prazo para que isto se confirme, manchará aquilo que estava limpo.
Esta é uma grande dificuldade que deve ser levada em conta e que nos empurra mais uma vez para a busca de um caminho que conduza à assumpção de responsabilidade por parte de quem quer que seja, especialmente, dos inconsequentes partidários da conveniente avalanche de denúncias.