quinta-feira, 21 novembro, 2024
Inteligência na Pandemia

A pandemia persiste em um cenário desigual com falta de orientação e uma definição clara sobre qual deve ser o comportamento humano. Aliás, é sobre ele mais uma vez que recai a responsabilidade, senão única oportunidade de mudança da atual situação: a forma como o ser humano responde no dia a dia, a resposta aos seus estímulos sociais, aos seus sentimentos e necessidades.
Entre um dia de trabalho e outro, muitas vezes na ponte aérea, observo dois estados tão próximos com recomendações tão desiguais. Gente de um mesmo país que vive tão diferente quase como se estivesse em outro continente.
Além disso, a falta de precisão sobre como agir não me surpreende a tal necessidade de levarmos a vida do dia a dia em um discurso vazio de um tão esperado “novo normal”.
Embora o desastre nas relações humanas estivesse há muito tempo anunciado, não pela tecnologia obsoleta que erroneamente tomou conta do dia a dia, mas sim pela nossa urgente necessidade de mais ter do que ser, foi necessária a pandemia para nós fazer… parar. Não que o coronavírus seja a resposta da natureza, ainda que há o que se discutir, mas sem dúvida ele nos trouxe a importância de olharmos para nós mesmos e de percebermos que, além da morte, os muitos e diferentes sentimentos são comuns a todos nós.
São lições diárias, minuto a minuto, sobre a importância de aprendermos a identificar e a lidar com nossas próprias emoções. Entre um ano e outro experienciamos a dor, o medo, a felicidade, a ansiedade, a raiva e até um pouco de tranquilidade. As emoções – e muitas! – nunca foram tão presentes na vida de cada um, pois além de reconhecermos cada um de nossos sentimentos, forçadamente, tivemos também, e principalmente, que aprender novas reações para cada um deles. Vimos conhecidos se transformarem ao nosso lado, pois ao se depararem consigo entenderam as próprias sensações e tomaram novas decisões. Descobrimos que o problema, ou melhor, a solução, não está em sentir, mas em como agir, tamanha a nossa fragilidade.
A pandemia nos trouxe, também, a certeza da instabilidade e com ela muita ansiedade. Por um lado o mundo parecia dinâmico, em que globalizado parecia mais relativizado. Por outro, era o resultado da falta do aqui e do agora. A dificuldade humana de olhar e conversar, já que é muito mais fácil digitar sem pensar.
Se o hoje não era igual ao ontem, agora temos ainda mais a incerteza de como será o amanhã. O mundo exige comportamentos e posturas novos a cada instante. Empatia, flexibilidade e resiliência nunca fizeram tanta parte do nosso cotidiano como agora, assim como a dificuldade de verdadeiramente nos colocarmos no lugar do outro. “Afinal, como entender a dor do outro se temos dificuldade de reconhecer a nossa própria? “
Esse é o novo normal, anunciado há algum tempo, não provocado pela pandemia, mas por uma consequência das ações provocadas pelo próprio ser humano. Estamos aceitando (ou não) que o futuro será tão diferente de quanto possamos imaginar, e que será necessário muito mais que enfrentar uma pandemia para garantirmos a nossa própria sobrevivência.
Na certeza da imprecisão, beirando a exaustão, vamos sobrevivendo a cada dia, aprendendo sobre empatia, reconhecendo que Inteligência Emocional pode ser muito mais racional.

Richard Debre, professor, educador, empresário, consultor, sonhador.

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